segunda-feira, 6 de agosto de 2012

aquele último encontro






Foi a última vez que iria ver teus olhos com aqueles olhos. A única coisa que eu queria era correr para abraçar o mar como toda vez que faço quando o mundo cai. É uma forma de fugir de mim mesma, de sair do meu corpo e ser da maresia completamente. Eu não era aquela pessoa, com aquele cabelo preso, aquele batom escondendo nos lábios minha vontade de gritar. Eu só queria o mar e nem isso conseguia. Ele escapava quanto mais eu tentava chegar às suas ondas. Ele não queria a mim. Ficamos só nós dois. Abraçados no meio da imensidão de quatro dedos de água salgada nos nossos calcanhares. Seu queixo apertava minha testa, seus braços davam uma volta completa em mim, eu ouvia o seu coração que de tão desesperado, começava a falhar.
Deve ser assim ficar adulto. Éramos muito mais adultos do que muita gente grande ali. Eu era a mulher fantástica que ele dizia ter tido a sorte de amar e ele foi o cara incrível que me ensinou a ser mais eu, mas só. Iríamos para lados opostos com uma vontade louca de não se deixar mas já deixando. Eu não queria machucar ele mas se ficasse eu teria que o fazer. Ele não queria me machucar mas se me amasse era o que aconteceria. Uma culpa só de ambos. Não era culpa de ninguém. Isso é só um jeito de desviar as dores para outros motivos, achar razões para destilar sua onipotência. Eu começava a partir ainda que estivesse envolta pelos seus braços, segurando suas pernas. Vez ou outra sentia o frio da brisa daquele mar infiel. Vez ou outra eu olhava para o céu, procurando alguma resposta para todas as interrogações que os olhos dele imploravam.
Finalmente estávamos por um fio. Não havia mais nada para ser dito, talvez lembrado, com muito carinho. Não haveria mais um “quem sabe um dia” ou “talvez”. Era tudo que nós queríamos com aqueles inúmeros adeus mal dados e sem convicção alguma. Era certo que um dia nos encontraríamos de novo, mas nunca, em nenhum momento, como nos encontramos naquela noite. Como essas duas almas que tinham sede da outra e de tanto afeto deixaram-se por si serem incompletas para sempre.

4 comentários:

Gugu Keller disse...

Todo fim de amor tem um quê de amputação.
GK

Fique mais um segundo... disse...

Oi, Aninha, boa noite!!
Muito tempo afastado de comentar. Muita correria. Assim que deu um tempo, corri aqui! E valeu a pena! Mar, amor intenso e separação caíram tão maravilhosamente bem nessas palavras que somente um quadro poderia representá-los tão bem quanto você o fez. É isso. Você nos dá de presente um quadro magnífico de um desses momentos da vida que são ao mesmo tempo dor e poesia, êxtase e despedida... Lindíssimo. Despedidas deviam se dar no deserto. Se elas se dão num lugar lindo como à beira-mar, tais despedidas não morrem jamais, não desaparecem nunca. Alguns dirão: que bom! Sim, alguns gostam muito de ser prisioneiros do que se foi... É uma opção...
Um beijo carinhoso
Doces sonhos
Lello
por puro acaso, seu fã

ana paula disse...

olá lello,boa tarde
percebi a sua ausência durante esses dias,mas fico feliz por ter encontrado um tempinho e vindo aqui =)
eu também ando sem muito tempo para conciliar o blog com os estudos,ta uma correria só.
realmente, o que dissestes é a mais pura verdade, despedidas deveriam ser feitas no deserto,talvez assim não fariam parte das nossas lembranças,seria bem mais fácil né? deixar aquele amor partir sem meras recordações.
beijos ^^

Ricardo F. dos Passos disse...

Incrível! Já estava com saudades de vir nesse cantinho.

http://oficinainusitada.blogspot.com.br/