terça-feira, 19 de junho de 2012

É só questão de tempo


Eu não sei falar pouco, não sei manter as mãos paradas enquanto tento explicar algo, eu nunca consigo me explicar. Eu não sei amarrar os cabelos e deixá-los presos por mais de cinco segundos nem andar na rua sem ficar distraída em meio à multidão. Mas aí vai o que eu sei: aquilo que aconteceu ontem, naquela noite que você não atendeu aquele telefonema, naquele dia que você decidiu não ir à praia porque acordou mais tarde, naquela vez que você esqueceu o casaco e voltou para buscar... Bem, todas essas vezes o seu destino mudou incontáveis vezes. Talvez você tenha deixado de morrer num acidente de carro, pego uma gripe, ou simplesmente, você tenha perdido a oportunidade incrível de encontrar alguém incrível. Vi um dia, pelas páginas amarelas de algum livro, algo como “somos livres de fazer nossas escolhas mas prisioneiros das suas consequências”. Eu também não sei isso, lidar com as consequências, nunca. Escolho muito, tanto, tudo e o que acontece depois se acumula no armário como roupa mal dobrada. Às vezes repito se foi isso mesmo que houve nessa minha história tão irônica. Esqueci a luz acesa e voltei para apagar, então o amor da minha vida passou pela calçada alguns segundos antes de passar por mim que ia comprar o pão na padaria? A vida tem sim um jeito engraçado de acontecer, mas sim, ela sempre acontece e não perdoa. Do jeito que a gente não quer, da forma como a gente não espera, desajeitada, torta, irritante, impaciente. Fiquei olhando por tanto tempo meu reflexo em uma dose no bar perto de casa que perdi a noção da hora. Meus dedos ficaram circundando a boca do copo. Meu passado tinha virado filme na cabeça, as cenas corriam, bailavam, tilintavam como cinema mudo. Era uma piada infame demais ser tão feliz num instante para ver tudo desabar feito castelo de cartas no outro. Num suspiro só. A única coisa que me restou, e que sempre resta, é dar-me mais oportunidades, mais esperanças, mais coragem, mais e mais, de um poço profundo que nem sei de onde crio. Porque no fundo eu creio feito uma idiota que quem sabe eu vou estar no momento certo dessa vez no lugar certo. Vai ver que eu não esqueci nada e esteja me martirizando nessa tequila e nessas lágrimas enquanto o melhor ainda está ali esperando para bater na minha porta. Enquanto isso, eu não sei, como todas as vezes que não sei dessas coisas de gente grande, se rio ou se choro da reviravolta que sofrem meus dias cada dia novo. Mas sei que é inevitável querer saber, pois quanto mais nós temos certeza de onde estamos pisando, vem algo, algum, alguém e nos diz o quanto estávamos errados por todo esse tempo e nos dá uma chance de, finalmente, acertarmos em cheio.

2 comentários:

Fique mais um segundo... disse...

Oi, Ana, boa noite!! Ou bom dia, porque são 50 minutos da noite que já é dia!!
Esse texto, essa sua crônica (maravilhosa, digna de ser editorial de muita revista ou jornal de renome) me pegou de cheio em cada linha. A vida, minha cara, é uma sucessão, acidental, incidental, proposital, decidida, não decidida, concordada, resistida... A sucessão não para, só vai se encaminhando... Cada mínimo ato traça um novo rumo, exatamente como você brilhantemente descreve. Então, muitos ficam apreensivos, até extenuados, exaustos de querer criar ou mudar seu destino... Nem podemos, nem devemos, nem precisamos... Basta-nos fazer o melhor a cada passo, crer a cada passo, amar a vida a cada passo, e então, como um imã, atrairemos o extraordinário ao nosso encontro. Meu pai me disse, aos meus seis anos: "o melhor, filho, sempre o melhor..." Nunca esquecerei. A vida tem sempre de mim, mesmo que não o seu, mas certamente o meu melhor.
Um beijo carinhoso
Doces sonhos
Lello
P.S. - Quer saber, acho que sou fã de primeira viagem de seus textos...

Jessica disse...

"(..)Porque no fundo eu creio feito uma idiota que quem sabe eu vou estar no momento certo dessa vez no lugar certo.(..)"

Que belo texto Ana Paula.. te sigo tb! :)